Devaneios de uma Mente Perturbada

Tem muitos temas que me incomodam muito, mas talvez o que mais me incomoda é a dificuldade que todos temos de ser corretos em nossas atitudes. A gente convive com muitas pessoas de criações e concepções da vida e de atitudes totalmente diferentes da nossa.

Acreditar que as pessoas tenham atitudes ruins só porque são más é algo pequeno. As pessoas têm atitudes ruins pois em seu íntimo não conseguem perceber, naquele momento, que está fazendo algo errado. Não conheço, nenhum ser humano, que não tenha se arrependido de fazer algo que era claramente errado mas, isto por si só, não foi o suficiente para impedir a ação.

Como biólogo, eu poderia achar que a explicação está no sistema de compensação, que é o modo como nosso cérebro funciona. O cérebro é uma máquina movida pelo prazer e, tudo o que possa trazer um sensação prazerosa imediata é bem vinda. É difícil visualizar isto, mas quantas vezes por dia contamos mentiras para nós mesmo? (eu não tenho tempo para fazer atividade física; eu não consigo tomar café da manhã; não posso, não consigo, não gosto...). Pode ser biologicamente é explicável mas parece mais uma desculpa de perdedor que não consegue superar suas fraquezas.

Em conversas informais com as mais diversas pessoas que conhecemos, podemos observar que quase todas sabem o que deve e o que não deve fazer para viver em sociedade. A questão é: será que estamos dispostos a fazer sacrifícios por um bem maior? Não grandes sacrifícios, como morrer por uma causa, mas pequenos sacrifícios diários, um exercício de abnegação que é tão simples e tão difícil de se fazer.

Coisas como, ceder o lugar para uma pessoa mais velha no ônibus; recolher o lixo do chão; ceder espaço para o carro que quer trocar de pista; não parar em fila dupla; não se irritar com pessoas lentas no trânsito, são atos normais para qualquer pessoa educada porém basta encontrar uma "desculpa convincente" para burlarmos essas "regras".

A alguns dias atrás passei por um menino que achei com cara de conhecido (ex-aluno provavelmente) e percebi que a todo momento teremos pessoas que podem julgar nossas atitudes e, de fato, percebo que isto é algo muito comum em todos os locais de convivência. Somos julgados pelo que fazemos, pelo que falamos, como nos vestimos e pelo que comemos ou se somos sedentários ou atletas.

O ato de julgar é algo bem natural. Não estou imune ao julgamento dos outros e, muito menos, à julgar o próximo. O que não entendo é por que isto nos afeta tanto?

Já imaginou se conseguíssemos conviver sem que fôssemos vítimas do julgamento alheio e "bons" o suficiente para não julgar ninguém? O julgamento sempre acontece; faz parte da essência do ser vivo pois para sobreviver o julgar é importante. A questão é o por que de não conseguirmos superar as diferenças sem que isto nos afete de modo negativo.

Ter as atitudes corretas porque é um ato de educação e que, logicamente, traz um benefício próprio a partir do momento que nos torna "bem visto" pela sociedade é ato "falso".

A educação é algo que transfigura a pessoa e tira desta sua essência, mas é extremamente importante para que possamos conviver na sociedade. Alguns filósofos acreditam que o ser humano é essencialmente mau, o que explicaria a necessidade de educarmos os mais jovens e o porque de termos que agir "falsamente".

A sociedade nos "obriga" a agir de modo "correto". Mas o que é "correto"?

O "correto" talvez seja agir de modo que não comprometa sua visão da sociedade e, muito menos, a visão da sociedade em relação à você. Só que isto é mutante, cultural, regional e portanto, impreciso.

Partindo da premissa que nosso cérebro é uma máquina movida pelo prazer, fica muito difícil chegar á um ponto comum de como devemos agir. Pessoas tem ideias próprias do mundo. A noção de certo e errado não se aplica se compararmos as pessoalidades e só tem real sentido na convivência. O sofrimento de ter que passar por cima de crenças pessoais pelo "bem" do social é algo recorrente à todas as pessoas e só conseguiríamos superar essas diferenças se o ser humano fosse magnânimo suficiente para conseguir amar as diferenças.

...

Sei lá...

outra hora eu continuo...

Comentários

  1. Seu texto me fez lembrar de um conto da Clarice Lispector: "As Caridades Odiosas", muito bom, fala, de certa forma, sobre o certo e o errado, o comportamento (ou atuação) do ser humano perante a sociedade.

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