OS LADOS DO PODER POLÍTICO
A
divisão política entre direita e esquerda aconteceu pela primeira vez na
França, durante a primeira fase da revolução de 1789. A assembleia, que ocorria
diariamente, era dividida de tal forma que os indivíduos pró revolução (jacobinos: republicanos radicais a
favor da democracia; e "cordeliers":
grupo heterogêneo, defensor do regime republicano, formado pela camada mais
pobre da população urbana) ficavam do lado esquerdo, e os aristocratas,
partidários do antigo regime ("feuillants":
monarquistas constitucionais representando a burguesia financeira; e girondinos: republicanos moderados que
representavam a grande burguesia comercial e industrial) ficavam a direita.
Pode-se
entender que a orientação política de esquerda é a mudança de paradigma da
realidade vigente. Os esquerdistas são, por essência, progressista que têm na
figura do povo e da igualdade das classes suas bandeiras. Para os esquerdistas
não existe liberdade quando o poder econômico é utilizado para manter as
diferenças entre as classes.
A
orientação política direitista pode ser definida como conservadora. Na
configuração político/econômica atual, os conservadores defendem a liberdade
econômica (sem ou com pouca influência do estado) e uma sedimentação natural
das diferenças entre as classes com o passar do tempo. Para os conservadores, a
diferença entre as classes é algo natural e o mérito é consequência da liberdade
de escolha do indivíduo.
Deve-se
ficar claro que as ideias colocadas anteriormente consideram apenas regimes
democráticos, uma vez que os regimes ditatoriais não deveriam ser considerados
instituições legais, pois só são legitimadas após se forjar leis impositivas. Nesta
conjuntura não se apreciam esses regimes como algo natural e própria ao ser
humano racional.
Lógico
que entre a esquerda e a direita extremas existe uma gama de possibilidades. A divisão
do parágrafo anterior é simplista e não dá conta de todas as ideias políticas
existentes nos diversos tipos de regimes democráticos. As características
sociais de cada estado, o intercâmbio cultural em um mundo onde o deslocamento
se torna cada vez mais fácil e o acesso às novidades cada vez mais rápido por
conta da internet, abrem um leque de opções de racionalização sobre uma
quantidade enorme de assuntos e opiniões.
Talvez
por isso esteja tão difícil se posicionar politicamente. Não há coerência entre
o discurso e a prática nem entre a pretensa posição política e o discurso.
Apesar
disso, numa visão pessoal, a direita tem uma concepção muito individualista do convívio
entre os seres humanos. Isto não significa que os outros indivíduos não tenham
valor. A individualidade se deve ao livre arbítrio, ou seja, o que se fizer da
vida e as suas consequências devem ser moralmente assumidas sem usar como
desculpa terceiros ou fatores externos para justificar os acontecimentos. Estas
colocações servem tanto para fatos bons como para os ruins da vida. A isto
entende-se como liberdade e esta liberdade é extrapolada para todos os níveis
de interações sociais.
Do
outro lado tem a esquerda com sua visão de uma sociedade igualitária onde a
comunidade é mais importante que a individualidade. Não confundir isto com a
perda dos direitos individuais assim como o individualismo de direita não
significa o esquecimento da importância das leis da sociedade. A grande
diferença é a importância da sociedade como agente transformador do indivíduo e
deste como agente transformador da própria sociedade. Porém, para que tudo
“funcione”, é preciso ter normas rígidas que devem ser seguidas pelo simples
fato que a moral deve ser, a princípio, equivalente a ética.
Os
governos atuais podem ser divididos em dois grupos básicos: Os governos
“liberais” que nunca conseguem desvencilhar o estado do mercado e os
“socialistas” que nunca conseguem tornar o mercado posse do estado.
Os
liberais sonham com o dia que um governo se reduza a ponto de deixar que o
mercado se autocontrole. É óbvio que isto não funciona. Em uma população que
prima pela diferença de classes e que culpa os menos favorecidos pelos males de
suas desgraças, o atrito é certo.
Os
socialistas sonham com o dia em que o estado se torne uma entidade viva, pulsante.
É óbvio que isto não funciona. Em uma população que prima pela igualdade de deveres
acima dos direitos individuais, as tensões são inevitáveis.
Observamos
no mundo atual uma mistura de ideias que tornam o futuro da sociedade humana uma
vanguarda inalcançável por qualquer regime político. Nossos governantes são
pessoas do século passado e tem na tecnologia da informação seu maior inimigo.
Os antigos regimes políticos não acompanharam as mudanças sociais do século 21.
Todos os regimes são afrontados por internautas do mundo todo. Estes burlam as
barreiras políticas e expõem suas opiniões sem travas.
A
nova ordem mundial é ... uma incógnita.
Por
quanto tempo se sustenta um poder que priva seu povo de seus direitos básicos
se este mesmo povo tem acesso a informações sobre liberdade e direitos em
outros lugares? Como sustentar um regime político que exclui uma maioria em
detrimento do consumo desenfreado de uma minoria?
Na
situação dos regimes políticos vigentes, não há possibilidade de extinguirmos
os atritos sociais e as guerras. Todos os lados políticos são falhos. Nenhum
lado dá conta de resolver os problemas sociais mais básicos. A maioria da
população mundial está alienada das demandas sociais e tudo o que precisamos é
de respeito e igualdade de direitos e deveres entre as pessoas. Não é nada
fácil definir os direitos e deveres. É um trabalho muito mais árduo do que
parece.
Digamos
que a ONU decida fazer uma Assembleia Mundial Constituinte. Neste caso terão
que decidir sobre direitos e deveres, numa mesma mesa, árabes e judeus;
ucranianos e russos; americanos e cubanos; bósnios e sérvios; todas as etnias
africanas, etc. Como entrar em um consenso sobre as leis universais para a
humanidade? Como colocar frente a frente nações laicas e fundamentalistas sem que haja conflito de interesses?
Acredito
que a humanidade está em processo de evolução como qualquer outro ser vivos do
planeta. Território, sustento e futuro são problemas a serem solucionados em
todas as populações do mundo. Todas as políticas devem ou pretendem dar conta
desses problemas. A dificuldade maior é que cada população quer a solução de
seus problemas e não de uma solução para toda a humanidade.
Enquanto
as necessidades de uma nação estiver acima das dificuldades de outra, ou outras nações; enquanto o crescimento e desenvolvimento econômico social de uma
nação depender da miséria de outras nações, não haverá regime político que seja
competente para extinguir as misérias da humanidade.
Para tanto, devemos começar estas mudanças internamente. Enquanto as necessidades de poucos estiver acima das dificuldades de muitos, enquanto o crescimento e desenvolvimento econômico estiver desatrelado do social e ecológico, não haverá como se almejar uma humanidade melhor.
Para tanto, devemos começar estas mudanças internamente. Enquanto as necessidades de poucos estiver acima das dificuldades de muitos, enquanto o crescimento e desenvolvimento econômico estiver desatrelado do social e ecológico, não haverá como se almejar uma humanidade melhor.
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